Rolando Toro Araneda
Constatando que a psicoterapia de uma maneira geral fracassou na sua missão, pelo menos no que respeita ao comportamento global, e que o mundo sofre de diversas patologias, levando à sua auto-destruição e crise nas relações afetivas, Rolando Toro (1924-2010) demonstrou a necessidade de “criar uma poética das relações humanas, outro modo de perceção da vida”. Sua crença na possibilidade de um paraíso compartilhado o levou a procurar a fonte do “amor original”, do amor ao próximo. E então criou a Biodanza, um método vivencial, cujo objetivo é promover os potenciais saudáveis, a partir de encontros em grupo, mediados pela música e pela dança.
Nas suas experiências com músicas e danças desde 1964 em hospitais psiquiátricos, Rolando observou que a música era capaz de exercer influência no psiquismo. Foi a partir daí que ele começou a estruturar o seu trabalho –a que inicialmente intitulou de Psicodança-. Então ele criou danças e exercícios a partir de gestos naturais do ser humano, com finalidades precisas, afim de estimular a vitalidade, a criatividade, o erotismo, a comunicação afetiva entre as pessoas e o sentimento de pertença ao universo, à totalidade.
A partir dos anos 70, e à medida que novas conceções científicas sobre a vida íam aparecendo, Toro chegou à conclusão de que a essência do desenvolvimento humano não está nos aspetos psicológicos, e sim nos biológicos. Em 1976 incorporou ao modelo teórico as linhas de vivência e os primeiros conceitos da teoria da vivência e protovivências. E o termo psicodança acabou por ser substituído por Biodanza em 1979, devido ao entendimento do seu criador, de que a vida é o princípio de tudo o que existe. Nada menos do que uma mudança do paradigma antropocêntrico para o biocêntrico!
Assim, “a base conceitual da Biodanza provém de uma meditação sobre a vida, ou talvez do desespero do desejo de renascer de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril estrutura de repressão (…). Mais que uma ciência é uma poética do encontro humano, uma nova sensibilidade frente à existência” (Toro, 2002).
Para o esforço de fortalecimento e difusão da Biodanza contribuíram vários eventos no Brasil, para onde Toro foi residir a partir dos anos 70 (para difundir a Biodanza Rolando morou sucessivamente no Chile, na Argentina, no Brasil e em Itália), e a sistematização da Teoria da Biodanza (2 tomos editados em 1991 pela ALAB), e na publicação dos catálogos de músicas e exercícios, que levaram à unificação do programa de formação, comum agora a todas as Escolas de Biodanza através do mundo.
Porque com efeito, o movimento começou a crescer cada vez mais, o que é atestado pela criação anual de novas escolas de formação de facilitadores por todo o mundo (principalmente no Brasil, onde a Biodanza chegou em 1976, com o maior número de escolas, seguido por Espanha e Itália. Em Portugal há 2 escolas em funcionamento (Porto e Lisboa) e uma terceira a emergir (Faro), e no aumento de grupos regulares que a praticam (abarcam cerca de 7.500 praticantes no nosso país). Mas o movimento está difundido por todo o mundo, incluindo países da América Latina, Europa (desde 1984, pela filha de Rolando, Verónica Toro e seu marido Raúl Terren), Canadá, Japão e África do Sul, tuteladas (modelo de franquia) pela Fundação (IBF- Internacional Biocentric Foudation) criada por Rolando.
No âmbito internacional há um grupo de investigadores vinculados à Internacional Biocentric Foundation através da rede BIONET (www.biodanza.org) e à Universidade de Leipzig (Alemanha). Há ainda, desde 2004, uma revista Pensamento Biocêntrico (Brasil), que divulga artigos científicos periódicamente sobre os aspetos teóricos e a experiência prática da Biodanza. É de salientar que a maior parte desses colaboradores são, senão facilitadores, pelo menos praticantes de Biodanza. De um modo geral, observa-se que as pesquisas sinalizam alguns aspectos pelos quais a Biodanza pode ser compreendida como uma metodologia propulsora da realização humana, entre os quais: a reeducação afetiva, o cuidado solidário, a promoção da saúde, o desenvolvimento da criatividade e o fortalecimento de uma identidade positiva.
A Biodanza chegou a Portugal em 1998, e as primeiras aulas foram facilitadas pela então diretora da Escola de Biodanza de Madrid, Margarite Karger e seu marido Roberto Mirelman. Decorriam durante o final de semana, uma vez por mês, e desta primeira formação saíram 12 participantes, de entre os quais iniciaram grupos Manuela Robert (com crianças e escolas no concelho de Cascais entre 2001 e 2006), e Nuno Pinto (o único Facilitador a ter Grupos Regulares para adultos entre 2001 e 2008).
Em 2003 e, com vista a consolidar o seu grupo regular de integração (ou seja, participantes comprometidos semanalmente com a Biodanza), Nuno Pinto iniciou uma parceria sob a direcção de António Sarpe, da Escola do Rio de Janeiro, de quem colheu a sabedoria e experiência, e que originou “um casamento”, do qual resultou a construção e consolidação da Biodanza em Portugal, até aos dias de hoje.
Em parceria fundaram as Escolas de Biodanza Sistema Rolando Toro (SRT) do Porto (em 2004, – e que tem hoje por Diretor Nuno Pinto, que entretanto também se tornou Didata em 2010) e de Lisboa (em 2008, – cujo Diretor é atualmente António Sarpe) que formam Facilitadores de Biodanza (ciclo de 3 anos). Como refere Rolando Toro relativamente aos Facilitadores “nossa tarefa não é simplesmente exercer uma profissão, senão realizar a missão de induzir uma mudança interior de respeito e profunda solidariedade humana, (…) em mostrar novos caminhos de exercitar amor e despertar a consciência iluminada”.
A partir de 2008, e com o término da formação da Turma I, surgiram vários outros Facilitadores, que agora espalhados pelo país, começaram a promover a Biodanza em Portugal, através da abertura de Grupos Regulares e outros encontros pontuais (open-classes; encontros em Festivais; etc). Em 2011 já havia cerca de duas dezenas de facilitadores em ação. E “a cada término de formação de Escolas de Biodanza em Portugal há um aumento considerável de grupos regulares; cada vez mais, a Biodanza é menos incomum e mais acessível geograficamente ao cidadão português” (Neusa Tobias). (Para saber mais: http://www.escolabiodanzasrt.com)
Também nas instituições de ação social e educacional, iniciada em 2001, a Biodanza tem vindo a ter uma expressão cada vez mais relevante (escolas secundárias, infantários, estabelecimentos prisionais, universidades sénior, hospitais e centros de saúde). E o V Congresso Europeu de Biodanza, organizado em Portugal, em 2014, veio dar ainda maior visibilidade ao movimento, ampliando o número de convites aos facilitadores titulados e/ou didatas de Portugal, sendo atualmente a sua participação frequente em maratonas de escola, workshops, apresentação de trabalhos, congressos, encontros e festivais, quer em Portugal como no estrangeiro.
Conscientes da necessidade de desenvolver um movimento estruturado, orgânico e biocêntrico foi lançado em 2011 o Núcleo de Facilitadores, que acabou por ser substituída pela APFB – Associação Portuguesa de Facilitadores de Biodanza em 2015 (http://apfbiodanza.pt) e que tem a cargo, entre outras atividades, a Comemoração do Dia Mundial da Biodanza (este ano comemorado a 23 de Abril) e do Festival Lusitano de Biodanza (a realizar em 18 de Junho), e a divulgação dos contatos e atividades dos seus sócios.
Como escreveu Rolando Toro “a comunidade de Biodanza continua a perseguir a mais nobre tarefa que a nossa existência pode abraçar: devolver ao mundo a sacralidade da vida”, por isso acredito que muito mais haverá para contar nos próximos anos, sobre o movimento em Portugal e no mundo.
(Texto: Leonor Gandra, revisto e aprovado por Nuno Pinto)
Como é que a Biodanza atua sobre a vida humana?
Porque é que funciona de forma integral nos seus participantes?
Quais os mecanismos de ação da Biodanza?
Neste artigo, António Sarpe, aborda a forma alquímica como, a música o movimento integrador, o método vivencial, o grupo, a carícia, o transe e regressão, e a expansão de consciência funcionam e atuam, podendo conduzir à elevação do nível geral de saúde, num primeiro estágio, e progressivamente a mudanças orgânicas e existenciais, à medida que se aprofunda a prática da Biodanza.
BIODANZA pode ser aplicada a grupos especiais. Estas aplicações requerem conhecimentos específicos para cada grupo. A Formação em Aplicações de Biodanza, só pode ser iniciada depois de ter obtido o título de Facilitador de Biodanza, e tem uma duração que varia entre dois e dez módulos segundo o tipo de especialidade.
As aplicações de Biodanza têm 3 grandes ramos: Educação, Clínica e Organizacional.
Na Escola Superior de Educação Almeida Garret, em Lisboa está disponível a pós-graduação em Educação Biocêntrica. Esta pós-graduação vai no sentido de complementar e ampliar as abordagens educacionais que estão instituídas no sistema de ensino, e não no sentido de derrubar o que existe. Os sistemas educativos formam as pessoas para desenvolver uma determinada profissão, e para um determinado comportamento cívico dentro das pautas de regulação da sociedade e da convivência grupal. As abordagens tradicionais funcionam para a maioria dos estudantes, mas há sempre exceções. Como é que se incorpora a diversidade de cada identidade? Como é que se tem sensibilidade para se chegar a cada aluno? Como é que se educa para a vida? A Educação Biocêntrica vai mais longe: Como nos relacionarmos? Como expressarmos os nossos potenciais genéticos, dentro daquilo que é uma forma única de expressão?
As extensões entram na esfera pessoal do desenvolvimento da identidade, e surgem associadas a:
Em Portugal, as extensões estão orientadas para o processo, daí que o acesso é exclusivo para facilitadores e para os praticantes integrados em grupo regular, frequentando ou não a Escola de Facilitadores de Biodanza.
Cada extensão cumpre o propósito de cimentar um processo de aprendizagem e de integração proposto pela Biodanza. O grupo regular tem uma função homeostática, ou seja: ele vai integrando, mas sendo um trabalho semanal num grupo que contém uma matriz afetiva e estruturada, cria uma condição para a rotina e para a habituação. Quando o aluno de grupo regular frequenta uma extensão isso produz um desafio extra, um convite a sair da zona de conforto.